Editorial

Hora de aceitar o recado

Precisou de uma tragédia climática de proporções bíblicas no Rio Grande do Sul para a pauta entrar de vez no debate diário das comunidades, dos políticos e da imprensa. Por muito tempo, quem alertou para o que vinha vindo era tachado de ecochato, alarmista ou apocalíptico. No entanto, o cenário que se desenha nos últimos anos é de uma tragédia coletiva em plena ascensão, e que teve o grande pico, até o momento, em maio. Porém, eram visíveis os sinais e, por ignorarmos é que chegamos neste ponto.

A fala infeliz do governador Eduardo Leite (PSDB) sobre o governo ter “outras agendas” é ilustrativa em uma sociedade que fechou, por muito tempo, os olhos para a tragédia climática iminente. Sempre achamos que teríamos mais tempo para lidar com esta transição, com o aquecimento global, com o rombo da camada de ozônio e tudo mais. Mas a temperatura começou a ficar mais imprevisível, estiagens mais agressivas e chuvas mais violentas. Tanto que esta é a quarta ou quinta emergência gaúcha em pouco mais de um ano e meio.

O erro não passa só pelos políticos. Quase todo cidadão comete atrocidades com o meio ambiente, que vão do simples papel de bala no chão da rua, que ajuda a entupir bueiros e valetas, até os crimes, de fato, contra a natureza, como queimadas e afins. Passa também pela imprensa que, por muito tempo, tratou clima como entretenimento. O repórter congelando para mostrar um frio intenso fora de época como se fosse algo inusitado e não um sintoma. O calor exacerbado é tratado como oportunidade de lazer, e não como outro sintoma.

O pior de tudo é que não foi por falta de aviso, seja da própria natureza com estes alertas, sutis ou nem tanto, ou mesmo de especialistas. Figura constante nas páginas do Diário Popular, o ecólogo e professor da Furg, Marcelo Dutra da Silva, por exemplo, outro dia compartilhou com a Redação um acervo de centenas de artigos e entrevistas publicados em nossas páginas com alertas. Ele não é uma voz solitária. UFPel e Furg contam com dezenas de especialistas capacitados para ajudar na prevenção, mas que até aqui, pouco ou nada foram ouvidos.

Chegou a hora de levar o meio ambiente em consideração em absolutamente todas as tomadas de decisão enquanto sociedade, seja para definir um projeto de urbanização, seja na elaboração de políticas públicas, seja nas nossas posturas como indivíduos, comunidade ou imprensa. O alerta deixou de ser dado e já estamos lidando com os impactos. Portanto, é momento de tentar estancar para, então, reverter.

Não faltaram alertas, por parte de especialistas e da própria natureza, sobre a tragédia que viria.

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